terça-feira, 27 de outubro de 2015

Elquisson Soares: o político que desafiou a Ditadura Militar

Luís Carlos Fernandes, Taberna da História
O histórico Rio Gavião tem dado celebridades à região, desde aqueles “gaviõeseiros” da Baixinha, de Caraíbas e Laje do Gavião, que nas disputas a facão amarravam-se pelas fraldas das camisas para uma prova de valentia e sangue frio, até homens que, pela inteligência e cultura, tornaram-se personagens de destaque da História da Bahia como o inesquecível Tranquilino Leovegildo Torres, nascido à margem do Rio Gavião na então Vila de Santo Antônio da Barra, atual cidade de Condeúba, no dia 30 de agosto de 1859. Tranquilino Torres, bacharel em Direito, foi Procurador e Magistrado, além de Conselheiro do Tribunal de Justiça do Estado, geógrafo, filólogo, crítico literário, historiador e fundador do “Instituto Geográfico e Histórico da Bahia”, de cuja instituição foi presidente por longos anos.

No dia 27 de junho de 1940, no Distrito de São João da Vila Nova, atual Anagé (BA), que pertencia a Vitória da Conquista naquela época, às margens do Rio Gavião, nasceu o ex-deputado federal Elquisson Dias Soares. Em Anagé, onde viveu até os 16 anos, o 18º dos 21 filhos de seu pai trabalhou na “Casa Monte Castelo”, de secos e molhados, que era de seu irmão mais velho Edson Dias Soares e de seu cunhado Valdívio Moreira Andrade. Trabalhou ainda como balconista comercial na loja de Manoel Moreira Chaves. Leia na íntegra esse momento da história de Vitória da Conquista.

Mudou-se para Vitória da Conquista em janeiro de 1956. No ano seguinte (1957) fez admissão no “Ginásio de Conquista”, do padre Palmeira. Seu primeiro emprego em Conquista foi no botequim de Clóvis Maia, na Praça da Bandeira. Dali foi para uma loja de tecidos, na Travessa da Bandeira, de Gildete Moreira dos Santos. Em seguida trabalhou na famosa PEC (Padaria Elétrica Conquistense), quando entregava pão em toda a cidade. Da PEC foi para a “Cinderela”, casa de calçados que pertenceu a Humberto Carvalho, e, por último, foi ser contínuo no “Banco Mineiro da Produção”.


Em julho de 1959 foi para o Rio de Janeiro, onde foi estudar. Não pode nos dois primeiros anos, mas reiniciou em 1961, quando fez vestibular em 1966 para a Faculdade Cândido Mendes, de Direito, colando grau em 21 de dezembro de 1970. Aliás, ele foi o orador da turma, de cuja solenidade, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, saiu preso pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), que queria seu discurso escrito. Ele se negou a entregar, dizendo: “Não sou orador do DOPS; sou orador da minha turma”. A direção da faculdade achou por bem que entregasse o discurso, inclusive, o diretor Cândido Mendes sugeriu que o 2º colocado falasse no lugar de Elquisson, que estava relutante.


Mas, o 2º, que é o famoso político brasileiro, Miro Teixeira, se negou dizendo que o orador seria Elquisson Soares: “Ou ele ou ninguém”, afirmou. Elquisson acabou sendo obrigado a falar de improviso, autorizado pelos 283 formandos, numa demonstração de confiança e solidariedade. Em 13 de março de 1964 esteve no histórico comício da Central do Brasil, que levaria o país, no dia 31 de março daquele ano, para a Ditadura Militar, ditadura que ele combateu por toda a sua vida. Na “Marcha dos 100 Mil” foi um dos organizadores e ajudou a levar nos braços para a Assembleia Legislativa o estudante Edson Luiz, morto pelos agentes no restaurante “Calabouço”, em 1969. Tinha sido preso em 1º de janeiro de 1969 e só liberado em abril.


Quando retornou para Vitória da Conquista, em abril de 1971, foi professor e advogado, construindo sua carreira que o levaria para a política, elegendo-se vereador em 1972 (aliás, sua participação ativa na política local, conforme relato pessoal, ocorreu a partir de 72 numa reunião na casa do médico Antônio Teixeira, quando Jadiel Matos saiu candidato a prefeito). Depois foi eleito deputado estadual em 1974 e deputado federal em 1978, reelegendo-se em 1982. A sua atuação naquela Egrégia Casa ganhou admiração, não só da Bahia, mas do país.

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